terça-feira, 4 de novembro de 2008

No Páreo da Política Americana

O racismo pode ser um empecilho a Obama? *

Laura Smith-Spark
BBC News





Barack Obama pode ser o primeiro presidente negro dos EUA
Duas década atrás, Douglas Wilder viu sua vantagem de 9% nas pesquisas para as eleições ao governo do Estado da Virgínia cair para apenas 0,1% quando os votos foram contados.
Mesmo assim, ele ganhou as eleições, tornando-se o primeiro negro a ser eleito governador de um Estado americano. Mas a vitória apertada fez com que analistas especulassem que ele teria sido uma vítima da hesitação de brancos em votarem em um candidato negro.

Segundo a teoria, alguns eleitores brancos afirmam em pesquisas de opinião que votarão em um candidato negro, mas, na privacidade da urna eleitoral, acabam escolhendo o nome de um branco.

É isto que alguns apoiadores do senador Barack Obama, que concorre à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, temem que aconteça no próximo dia 4 de novembro.

O fenômeno é conhecido como o “Efeito Bradley”.

Tom Bradley era o prefeito afro-americano de Los Angeles quando, concorrendo às eleições para o governo da Califórnia em 1982, viu sua vantagem nas pesquisas pouco antes da votação evaporar, dando a vitória a seus concorrente, o republicano branco George Deukmejian.

Em 1989, no mesmo ano em que Wilder se tornou o governador da Virgínia, David Dinkins foi eleito o primeiro prefeito negro de Nova York, mas também viu uma vantagem de 18 pontos nas pesquisas se tornar apenas 2% no dia da eleição.

Será que o mesmo pode acontecer com Obama?

Charles Henry, um professor da Califórnia que está entre os primeiros a estudarem o “Efeito Bradley”, afirma que Obama precisaria de uma vantagem de dois dígitos nas pesquisas para se sentir confiante sobre sua vitória.

Outros acadêmicos sugerem que uma vantagem entre seis e nove pontos pode ser suficiente. De acordo com a maioria das pesquisas, esta é a vantagem que Obama possui atualmente.

Bradley reverso

Douglas Wilder, hoje prefeito da cidade de Richmond, Virginia, e apoiador de Obama, afirmou à BBC que o racismo não deve ter um impacto tão grande desta vez.

“Terá algum efeito? Sim. Há ainda pessoas que não conseguem dar seu voto a um afro-americano? Sim”.

Mas ele afirma: “A América cresceu, as pessoas cresceram”.


"A América cresceu, as pessoas cresceram", diz Wilder

Apesar disso, polêmicas sobre o racismo nas eleições estão fazendo uma sombra na campanha de Obama.

Rush Limbaugh, apresentador de um popular talk-show conservador já se referiu a Obama como “homenzinho negro”, e um senador republicano já descreveu Obama como “uppity”, palavra inglesa equivalente a “metido” e “presunçoso” em português e que era usada com conotação racista quando se referia a pessoas negras.

Há também notícias de gritos racistas durante comícios recentes de McCain.

Apesar disso, Wilder se mantém otimista sobre as chances de Obama.

“Eu penso que teremos algo como um “Efeito Bradley reverso”, porque acho que há muitos republicanos que não dizem abertamente que votarão em Obama, mas vão”, disse.

Uma pesquisa do psicólogo Anthony Greenwald e da cientista política Bethany Albertson, da Universidade de Washington, sugere que Obama já se beneficiou de um “Efeito Bradley reverso” em 12 Estados durante as primárias do Partido Democrata, enquanto o “Efeito Bradley” propriamente dito só foi notado em três.

Um estudo do pesquisador de Harvard Daniel Hopkins, que analisou 133 eleições para governos de Estados e ao senado entre 1989 e 2006, também não apontou uma grande presença do “Efeito Bradley”.

Pesquisas de opinião ainda apontam que os americanos estão menos relutantes em votarem em um negro do que há algumas décadas.

Um pesquisa do instituto Gallup sugere que 9% dos americanos estão mais suscetíveis a votarem em Obama por causa de sua raça, enquanto apenas 6% dizem que ficam menos dispostos a votarem nele pelo mesmo motivo.

Wilder também acredita que Obama está conseguindo fazer uma política que poderia ser chamada de “pós-racial”.

Ele afirma que, há um ano, ele deu um conselho ao senador, e ele parece ter o seguido.

“Ele nunca menciona a raça por si só. Ele não falou muito sobre a raça, a não ser no discurso sobre a polêmica do pastor Jeremiah Wright, quando fez um trabalho de mestre”, diz Wilder.