terça-feira, 7 de outubro de 2008

E o vencedor é ...

Veja só o artigo da sexta feira que o Feuerwerker (com quem eu trabalhei por algum tempo) escreveu no seu blog www.blogdoalon.com.br :

(Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.


Debate eleitoral é como entrevista de emprego. Sai na frente o candidato 100% concentrado nas necessidades do empregador. No caso, do eleitor

Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br

Quando a coluna foi escrita, ainda rolavam os últimos debates do primeiro turno da eleição municipal, assim como o confronto televisivo entre os vices na eleição americana. Nos Estados Unidos, as avaliações ciclotímicas sobre a republicana Sarah Palin apontavam ontem a necessidade de ela não se sair muito mal no ringue contra o democrata Joe Biden. Palin começou bem a campanha, com um discurso energizante e articulado na convenção do partido. De lá para cá, vem sendo triturada na imprensa pelos escorregões e gafes nas (poucas) entrevistas a que se submeteu.

Quem debateu dias atrás foram os titulares. Os jornalistas americanos procuraram ser bastante cautelosos na avaliação a quente, logo depois do evento, o primeiro dos três previstos. Mas os números desde então apontam uniformemente a ampliação da vantagem do democrata Barack Obama sobre o republicano John McCain. É complicado dizer que foi só por causa do debate, já que os dias coincidem com a crise financeira. Ela, lógico, beneficia politicamente a oposição democrata. Mas o fato é que Obama é um político bom de debate.


O que significa ser bom de debate? Como saber quem ganhou um debate? Não são perguntas de resposta simples. Escolhi, de alguns anos para cá, certos critérios que me ajudam a não errar muito. Uma coisa a evitar em debates eleitorais, por exemplo, é a atitude de “você quer tomar o meu brinquedo e por isso estou com raiva de você”. O contendor tende sempre a querer trucidar o oponente. É humano, pois o outro representa o obstáculo no caminho da vitória, do prêmio maior.

Daí a tendência a tentar destruir, ridicularizar. Os partidários adoram, pois o ódio ajuda a mitigar a dor causada pelo medo do fracasso. O problema é que em geral não funciona. São recorrentes as vezes em que o sujeito acaba de assistir a um debate com a certeza de que o candidato dele ganhou, quando de fato perdeu. Perdeu o quê? A oportunidade de falar ao eleitor adversário e ao indeciso. Eleições são um raro momento em que o poder está formalmente nas mãos do cidadão. E o eleitor comum adora isso, aprecia muito a circunstância de o político depender totalmente dele, e não o inverso, como seria habitual.

Debate eleitoral é como entrevista de emprego. Sai na frente numa entrevista dessas a pessoa 100% voltada às necessidades do empregador. Na eleição, o empregador é o eleitor. No debate, o candidato competente expõe as próprias qualidades por um ângulo que corresponda às necessidades do eleitor, jamais se coloca numa posição arrogante, auto-suficiente ou prepotente. Tampouco deve ser tímido demais, contido demais, o que parece óbvio. E, para saber quem ganhou ou perdeu, é preciso sempre avaliar se, e quanto, o candidato falou aos desejos mais prementes e mais sensíveis de quem vai votar.

Barack Obama, assim como Bill Clinton dezesseis anos atrás, começa a abrir vantagem porque está completamente concentrado em construir a idéia de que os Estados Unidos precisam de uma alternativa econômica. O que, aliás, não é muito difícil de vender hoje em dia. Em terras americanas, parece que a maioria pensa que é hora de mudar. Sem esquecer que Obama leva jeito de ser mesmo um cara de sorte. As circunstâncias ajudam-no a não errar demais nesta eleição. Acho que nem o mais amalucado dos assessores dele proporia tentar desconstruir McCain, herói de guerra com ampla folha de serviços prestados ao país.

No Brasil, Geraldo Alckmin pode até ir ao segundo turno contra Marta Suplicy em São Paulo, mas repete o erro da campanha presidencial de 2006. A comunicação tucana deixa claro que o Geraldo não gosta dos adversários, especialmente do prefeito Gilberto Kassab. Mas não consegue transmitir uma única idéia sobre o que vai melhorar na vida das pessoas se o Geraldo for eleito.

Dizem que Marta tentará desconstruir Kassab num provável segundo turno contra o democrata. O método seria acenar com a volta do malufismo, já que o prefeito no início de sua trajetória esteve de algum modo associado ao projeto político do então poderoso Paulo Maluf. Vai funcionar? Depende do número de eleitores que acham que Kassab na prefeitura é na verdade Maluf prefeito. Ou que acham isso relevante.

O grande argumento de Kassab é que não vale a pena interromper uma gestão bem avaliada. Mais ou menos o que Luiz Inácio Lula da Silva disse em 2006. A missão de Marta é convencer de que a mudança agora é o melhor caminho para o paulistano. Se for mesmo Kassab a enfrentá-la, esse detalhe decidirá a eleição.

Já nos Estados Unidos, McCain precisará de algo que possa convencer o eleitorado a recolocar a segurança nacional no centro das preocupações.

Lá e cá, vamos ver o que acontece.